segunda-feira, 3 de novembro de 2014

Ela só queria que ele fosse o amor. O amor que não desiste mesmo depois de tantas desistências, o amor que não maltrata depois de tanto judiar. Igual quando se chora um corte de cabelo que de tantas vezes feito errado já nem dói. Infinitamente errado, infinitamente substituivel, mas cheio de desejo de uma viagem sem volta. 

Ela quis ter mais do amor e, por isso, correu de si. Talvez porque fosse preciso se perder pra amar alguém como se queira. Ou talvez porque o amor fosse tanto a ponto de lhe roubar. Um papo meio discordenado, um encontro por acaso, tipo momentos que não precisam acontecer, mas que faz um bem danado quando acontecem.

terça-feira, 2 de setembro de 2014

Vácuo

Não sei bem o que me impulsiona, mas agora, eu só queria mesmo avisar que eu já tinha ido embora quando me procurou. Meio complexo porque eu estava ali, porque eu te lia e, de alguma forma, já havia partido. Talvez, se você tivesse chegado um dia mais cedo, não, eu não teria te deixado sem resposta. Mas você passou do tempo limite que por dias, semanas e meses eu adiei. 

Eu sei, eu sei que pareço infantil quase sempre e que essa minha mania de problematizar nós dois te afeta. Mas cá entre nós, nós nos problematizamos quando juntos. Não funcionou naquele dia que você disse preu ficar mais um pouco, não funcionou no outro em que eu te pedi que ficasse. Nós tentamos e isso é bom.

Só que quando eu me dei conta, tinha esperado demais. E você talvez só descubra agora o tamanho do nó que a tua saudade compartilhada me deu. Porque sentir é bom, mas sozinha nem tanto, então de que valia permanecer? Tuas sobras não preenchiam meus vazios e eu até tentei me encaixar no pouco, mas não, eu não posso ser menos por você.

E o que eu vim dizer mesmo, é que no fim do dia, depois da tua procura na madrugada, eu apenas sorri pro nada. Um sorriso doído, mas satisfatório também, como de quando se ganha uma luta que te faz rastejar. Cheia de marcas novas mas coração acreditado. E, meu amor, a culpa d'eu ser melhor agora é toda tua. 

Não vou te responder pra não nos prolongar mais, mas deixo aqui registrada a minha gratidão (quem sabe um dia eu lhe diga ou quem sabe um dia eu nem sinta mais sua falta a ponto de querer). Obrigada por me fazer crescer ao me obrigar a desejar algo contrário a você, algo melhor do que você. Aprendi!


segunda-feira, 4 de agosto de 2014

Se eu fosse razão.


Estou indo embora, meu amor. Mais uma vez, eu sei. Mais uma vez nas nossas incansáveis partidas. Eu estou indo de novo por questões óbvias, não sou forte. Confesso, querido, eu não tenho peito para levar isso a diante. Eu sou pequena demais para acreditar que tudo pode mudar pela terceira, quarta, quinta vez - não sei, foram tantas. E a questão agora é que se eu não tenho certezas, como teremos? 

Me desculpe, mas é pesado demais olhar ao redor e ver julgamentos. Não posso julgá-los, eu também o faria se tivesse ficado ao meu lado naqueles dias, se tivesse passado horas ouvindo meu choro, se tivesse me visto escorrer pelos olhos e, obviamente, por sua culpa. Estão me protegendo e eu concordo com tudo que me dizem, o que é uma pena. Porque eu queria poder discordar em tudo, eu queria ter convicção de que agora você é merecedor da minha defesa, mas acontece que eu não sei e, bem, provavelmente nunca saberei. Não mais.

E apesar de me enganar, achando que vai vir um tempo certo pra nós dois, eu sinto, meu amor, e preciso lhe dizer, que não temos mais tempo. Chegou a hora, e me dói dizer, de aceitarmos o ponto final sem tantos pesares, porque tudo acaba, não é? E eu custei a acreditar nisso, e muito provavelmente eu só esteja me enganando, mas concorde comigo de que desse modo é mais fácil se despedir. Sendo positivo, ainda que numa maré de inconformidade, estamos bem. 

Quando eu disser meu adeus, segure as lágrimas como eu farei, ao menos até que eu entre no carro e dirija em direção ao novo que, não posso negar, me assusta. Mas não me siga, não questione, não relute. Seja fiel a mim só por hora e aceite o que julgo melhor pra nós dois. Eu prometo tentar acreditar que assim será, eu prometo não te ligar no meio do caminho aos prantos dizendo que tu és o amor da minha vida, embora nós saibamos que és, que somos. Que seja nosso segredo, que seja nosso porto, quase um cais em que possamos fechar os olhos e saber que algo nos vela pelo resto da vida. 

O que estou tentando dizer é simples: eu te amo, mas é preciso partir. Eu quero ficar, saiba disso. Eu quero ser sua, não duvide. Mas agora, meu amor, agora não dá. E não me pergunte o porquê, eu não saberia explicar, eu não sei ser razão, só tô tendo que ser.

Sejas feliz! Eu também serei. Com sorte.

quinta-feira, 24 de julho de 2014

Eu Labirinto


Eu vinha andando em linha reta, sempre crédula de que mal algum havia de ter. E, bem, não sei ao certo em qual momento, mas o trem descarrilhou. Sensação de um esgotar profundo, não havia fôlego suficiente para administrar mentalmente o que eu tinha acabado de ouvir. No meio do caos... eu.

No dia que eu cruzei aquele lugar pela primeira vez, imaginei, quase como num sonho, as possibilidades que cabiam no curto espaço de tempo que nos demoramos. Me fazia rir ser sonhadora. Dei de ombros e fiz piada o percurso todo, por horas, por dias, por meses. E vi meu riso sugado.

Quando as coisas ao redor se acinzentam, algo que vem de dentro avisa que o controle não é mais teu. Mas eu já não me preocupava mais com controles e conduções. Sequer soube me conduzir e se isso ao menos me preocupasse, ok. Mas nada. Passiva, inerte, como um corpo que segue o ritmo da multidão.

Hoje sou círculos, sou curvas, quase que um labirinto. Não me encontro mais e quem dera alguém me encontrasse. Me mudei de lá. Caminho inverso para outros lugares e outras demoras. É assim que funciona quando um lugar te dói, quando um lugar tem nome, quando a demora te machuca.

quarta-feira, 16 de julho de 2014

Reflexo


Hoje eu acordei e não lembrei meu nome. Meu corpo mudou, meu rosto também, não pareço quase nada com a pessoa de uns meses atrás. Isso é bom quase sempre. Cada esquina me trás algo novo, cada rosto também. Minha percepção sobre tudo é outra, completamente nova, completamente leve.

Eu tenho tentado me entregar a isso. Tenho reprimido meu medo, minhas angústias, minhas expectativas. Tenho tentado ser intensa na medida certa. Confesso me perder várias vezes e, não saber bem quem eu continuo sendo, faz de mim uma dúvida. A minha emergência é um perigo latente.

Aprender a ser sozinha é lembrar sempre quem se é e isso faz de mim uma aprendiz em tempo integral. Eu vivo me perdendo nesse novo. Pessoas chegam sem pedir licença, eu chego sem pedir licença, mas depois da despedida, quem ficou aqui? Eu quase nunca sei bem quem eu deixei me levar. Só que sempre me levam.

No espelho um olhar pertinente me encara como quem sabe exatamente o que quer e onde se quer estar, e me deixa um sorriso de "relaxa, estamos bem" . O labirinto nunca me angustiou, instigou. E eu sei que mudei, eu sei que eu sou o que eu quiser ser. E vou ser o que me convir enquanto eu quiser. Não pira!

terça-feira, 8 de julho de 2014

Sobre não permanecer


Você pode fingir amor, você pode acreditar que vai melhorar, você pode ignorar que não vai pra frente, você pode ser louca, boba, idiota, mas sempre, sempre chega a hora em que a ficha cai. E aí, não tem reza, nem mandinga, nem apelo, nem forças maiores que te façam não enxergar o que por tanto tempo você fingiu não ver.

No momento em que percebemos que a ausência era apenas desinteresse, o coração dói inteiro. A ligação que não chegava, a mensagem não respondida, o encontro desmarcado pela terceira vez, tudo começa a fazer sentido. Ele apenas não te queria. Simples, trágico e apenas aprenda a lidar com isso... sozinha.

No geral, a gente tende a resistir aos finais. Mesmo que eles sejam bem resolvidos, no fim das contas não interessa se ele teve peito pra te olhar da mesma forma que fez no dia em que te pediu um beijo, só que pra dizer que já não dava mais. Como também não interessa se você já não fazia, no fundo no fundo, tanta questão daquele amor cansativo e que te esgotava. O final, em si, sempre dói.

E talvez, saber a hora certa de se despedir faça de você maior. Talvez, o nó na garganta e a lágrima no canto do olho apenas façam parte da cena. Mais uma cena. Basta que se tenha tato, basta que se tenha certeza do que você merece e, principalmente, do que você não merece. Saber onde se quer estar é a porta de entrada para perceber que daqui a pouco o sorriso é novo, o olhar também e, na pior das hipóteses, o adeus é teu.

terça-feira, 3 de junho de 2014

Me ouça


Diz pra ele, por mim, por favor, tudo que eu venho ensaiando desde aquele dia. Diz pra ele que as coisas fugiram do controle e ele não tem culpa por ter culpa. Avisa que é normal bater o olho em alguém e querer se aproximar, avisa que eu gostei da aproximação. Mas diz, principalmente, que eu nunca soube lidar com a inconstância da presença dele porque ele é bom demais pra se ter distante.

Fala pra ele que meu coração ficou naquele sorriso que forçou uma barroca no canto do seu rosto e que quando ele gargalhou eu encontrei meu som favorito. Fala que o desprendimento dele me enlouqueceu por dias, mas me prendeu também. Ele precisa saber que eu entendo esse seu medo do amor e que já consigo suportar a ideia de que não sou eu quem vai lhe curar.

Olha pra ele bem no fundo dos olhos, igual ele faz comigo, e diz que ele mudou a vida de alguém. Diz que as birras desnecessárias fizeram dele único, diz que a doçura exagerada fez dele o que eu tanto quis. Eu sei, ele não vai entender, ele não vai sentir o apelo, mas só o deixa saber que eu sinto sua falta e que ele é melhor do que acha ser. Deixa claro, por favor, que eu ainda penso nele nos momentos mais simples e que tinham tudo pra não ter nada de nós dois.

Ele vai se desculpar com os olhos, o desculpe por mim, sorria por mim e diga que vai ficar tudo bem aqui. Que daqui a um mês eu não vou lembrar do calor que cabia no seu abraço, nem do som das nossas vozes se misturando no quarto e nem do triunfo que aparecia em seu rosto quando me tirava do sério. Diga que tudo vai virar pó, só pra ele sentir doer o esquecimento mas depois lidar melhor com o que restou.

Diga, finalmente, que o meu amor ainda é dele. E que não faz mal, desde que ele saiba.